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“Não foi só uma caminhada. Foi uma transformação.”

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Caminho da Fé: Nossa Jornada de Sete Dias

Tudo começou em uma conversa despretensiosa em casa. Eu mencionei para minha esposa que tinha o desejo de percorrer o Caminho da Fé e queria que ela fosse comigo. Decidimos que faríamos a peregrinação durante as férias escolares do nosso filho, o que nos deu cerca de dois meses para nos prepararmos. Começamos a treinar animados, mas na terceira ou quarta caminhada de treino tivemos que interromper na metade por conta de uma dor insuportável no joelho esquerdo que há algum tempo dava sinais de problema, então corri ao médico ortopedista que diagnosticou “lesão no menisco” e recomendou cirurgia imediata.
Liguei para minha esposa, triste e inconformado. No entanto ela não se abalou e disse: vamos procurar a opinião de ortopedista que não seja cirurgião e no dia seguinte estava eu lá. Quando contei ao novo ortopedista sobre minha frustração, ele me examinou calmamente e disse: “Vou te medicar, você faz a peregrinação e depois voltamos a conversar.”
A peregrinação aconteceu entre os dias 16 e 22 de dezembro de 2023. Foram sete dias intensos, nos quais percorremos 213 km, pois saímos de Inconfidentes MG. Cada dia nos trouxe um novo desafio e paisagens deslumbrantes. O caminho montanhoso, com subidas difíceis, especialmente o Desafio do Caçador e a Luminosa, nas quais enfrentamos as chamadas “ondas de calor”. Havia pontos de apoio ao longo do trajeto, mas, em alguns trechos, precisamos abastecer nossas garrafas com água da montanha. O calor era implacável, mas nossa fé nos mantinha firmes. Em cada dificuldade, sentíamos que não estávamos sozinhos, que havia uma força maior nos guiando.
Chegamos em Inconfidentes no dia 15 de dezembro, onde passamos a noite na Pousada Morada do Sol. Era uma pousada simples e bucólica, com um atendimento maravilhoso que nos fez sentir acolhidos e preparados para a jornada que estava por vir. Naquela noite, rezamos em uma capela da pousada e pedimos forças a Nossa Senhora para seguirmos o caminho.
Nosso primeiro dia de caminhada começou no dia 16 de dezembro, partindo de Inconfidentes em direção a Tocos do Mogi, um percurso de 31 km. A cada passo, a beleza da natureza ao nosso redor nos inspirava a seguir em frente, mas acredito ter sido o mais difícil de todos pois nosso corpo reagia ao cansaço tamanho ao qual não estava acostumado, Deus sempre coloca seus Anjos a nos proteger. Chegamos à Pousada Zé Dito exaustos, mas com a sensação de que estávamos no caminho certo. Foi um alívio fazer compressas com gelo nos joelhos e panturrilhas. Nesse dia, tivemos a oportunidade de conhecer outros peregrinos que compartilhavam a mesma fé e determinação. A energia dessas pessoas nos fortalece na caminhada.

No segundo dia tínhamos um planejamento de 40km pela frente. Acordamos muito cedo como é o normal dos peregrinos e seguimos. Era um domingo, alguns pontos de apoio fechados, a pousada O casarão que não chegava nunca e já eram quase 18h quando enfim chegamos. Novamente encontro com novos peregrinos e alguns outros já conhecidos, bate – papo, dicas e troca de experiências e fomos para a cama, não tivemos nem coragem de sair para um sorvetinho. A jornada fora realmente desgastante, mas tínhamos planejado somente 28km para o terceiro dia, pois sabíamos que não seria fácil a caminhada do segundo dia.
Como diz o ditado Deus ajuda quem cedo madruga, saímos revigorados, trecho longo de asfalto para sair da cidade, sempre na expectativa da estrada de chão, paisagem, natureza, capelinhas para oração, paradas para um suco e… bancos para sentar um pouquinho, aliviar a dor nos pés, revigorar a força das pernas… os bancos foram ficando escassos, mas uma placa, desde muito longe nos dizia: Pousada Dom Quixote. quando de repente a entrada da pousada surge a nossa direita. Resolvemos parar para pegar água e, quem sabe, tomar um suco e lá ficamos encantados com o atendimento do Sr. Alexandre que nos ofereceu um delicioso suco de frutas, pães e queijo, geléia… e ele nos sugeriu que esticássemos um pouco mais a jornada daquele dia, pois o dia seguinte teria um trecho muito duro e bem mais difícil se seguíssemos o planejamento original.
Sugestão aceita e ele mesmo tratou de entrar em contato com a outra pousada que nos levaria uns 4km à frente do plano inicial e quando chegamos num lugar que tinha internet, recebemos a confirmação de que tinha vaga e sim, seríamos recebidos. então desmarcamos a Pousada da Praça e seguimos firmes para Pousada da Roça. Mas, quis o destino que andássemos mais um pouquinho e, quando paramos na Seta Amarela para um delicioso almoço e descanso merecido, estão as mensagens da atendente pedindo mil desculpas, pois ela não sabia que o patrão havia agendado “dedetização”e não poderia receber ninguém, mas que já havia entrado em contato com a próxima pousada, Casa da Fazenda e que o senhor Edison nos receberia, a pousada era só mais 1km à frente. Ok aceitamos de boa e seguimos, Porém vida de peregrino não é tão simples assim e, o 1km se transformou em 4 ou 5 km. Chegamos à pousada completamente exaustos, o calor foi desgastante, mas com o coração cheio de gratidão pela força que se renovava em cada capela que encontrávamos no meio do caminho e a recepção que recebemos do Sr. Edison foi maravilhosa, além de ir de carro ao nosso encontro, pois já havia se estendido do horário que outra atendente disse que chegaríamos, então mandamos as mochilas e terminamos de chegar a pé. Ele nos recebeu com escalda pés, aparelho de massagem nas panturrilhas sofridas, rs.. e um jantar delicioso. Uma companhia muito agradável, mais um anjo no Caminho da Fé.
No dia seguinte, o café da manhã no padrão Sr. Edison nos fortaleceu para a nova jornada de mais de 30 km de caminhada. Durante o trajeto, foram várias paradas em pequenas capelas, rezamos agradecendo e pedindo proteção. Essas pausas são momentos de renovação espiritual, que nos dão a energia necessária para seguir a diante.
O quarto dia nos levou até Brazópolis, onde ficamos na Pousada Panorâmica. Foram 35 km de caminhada até chegarmos à pousada, mas para isso tivemos que vencer a Luminosa, pois a pousada que fica em seu topo. A subida foi desafiadora, sol a pino e onda de calor, mas, para nossa grata surpresa, encontramos uma turma de ciclistas paranaenses de Londrina que nos acompanhou durante toda a subida. A energia e o entusiasmo deles nos contagiaram, dando-nos uma força extra para superar aquele trecho difícil e os denominamos “Anjos da Alegria”.
A vista era deslumbrante e tivemos a sorte de assistir a um pôr do sol magnífico antes de jantarmos e descansarmos.
O quinto dia foi marcado pela chegada a Campos do Jordão, após mais 35 km. Ficamos na Pousada Château dos Fontes e lá tivemos um quarto maravilhoso e o atendimento sempre cuidadoso para com os peregrinos e assim, seguíamos gratos por cada pequena vitória, cada vez mais próximos do Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
No sexto dia, estávamos quase lá… novamente alongamos a caminhada para chegar mais cedo para sermos recebidos por Nossa Mãezinha. Partimos de Guaratinguetá, percorrendo 22 km até a última parada antes do destino final, a Pousada do Agenor, muito tradicional no caminho. A caminhada era longa, mas a certeza de que estávamos perto do nosso objetivo nos impulsionava a cada passo. Mais uma vez, as capelas no caminho nos acolheram oferecendo não só descanso físico, mas também uma indescritível força espiritual.
Finalmente, no sétimo e último dia, estávamos ali pertinho Dela já, percorreríamos mais 22 km até o destino final em Aparecida. As nossas pernas já um pouco acostumadas com tantas subidas e descidas, de repente foram premiadas com um trecho quase plano, andávamos muito rápido, parecia que tínhamos rodinhas nos pés, nas poucas paradas as pessoas nos animavam…está pertinho, estão quase lá, vão conseguir assistir a missa das 10h.
A sensação de chegar ao Santuário foi indescritível. Estávamos cansados, mas nossa fé estava renovada, fortalecida e realmente conseguimos assistir à missa das 10h, encerrando a peregrinação com a certeza de que havíamos cumprido nosso objetivo. Sentíamos que essa jornada nos transformou, fortalecendo nosso espírito e nossa fé.
Durante a caminhada sentíamos a necessidade de retribuir de alguma forma toda a acolhida e o apoio que recebemos ao longo do caminho então surgiu a ideia de fazermos uma doação de 60 bancos de madeira para a Associação Caminho da Fé instalar ao longo do caminho, compartilhamos a ideia com o Sr. Edison que gostou muito e nos colocou em contato com a Associação. Em julho de 2024, a entrega de 40 desses bancos foi realizada na sede da associação em Águas da Prata/SP. Fizemos uma instalação simbólica de um deles, e a associação ficou responsável pela instalação e manutenção dos mesmos. Em janeiro de 2025 seriam entregues os 20 bancos restantes, pois nosso veículo não é grande o suficiente para levar os 60 bancos de uma vez, mas não deu certo e agora, 14 de julho de 2025 finalmente fechamos o ciclo.
Essa jornada foi mais do que uma caminhada; foi um verdadeiro teste de fé, resistência e superação. Cada passo, cada dor, e cada momento de descanso foram parte de uma experiência que levaremos para a vida toda. Sentimos que não estávamos sozinhos em nenhum momento, e essa conexão com o divino nos guiou até o final.
Um abraço carinhoso da Familia Lira Tavares de Campo Grande – MS a cada peregrino e a cada anjo do Caminho da Fé. Que Nossa Senhora nos Guie e nos Fortaleça nos caminhos de nossas vidas!

Edgar Tavares – Analista de Sistemas, Empresário.

Pedrina Lira – Professora de Língua Portuguesa.

Temos um filho João Pedro, de 17 anos que faz Faculdade na UFPB. Somos de Campo Grande -MS .

O Caminho da Fé foi uma experiência extraordinária!