“Da Luz à Fé” – MARCOS ANTONIO CESAR DE OLIVEIRA
Trecho do livro “Da Luz à Fé”, sendo escrito, de Marcos Antonio César de Oliveira – Manaus/AM.
Iniciei a minha peregrinação no Caminho da Fé em Tambaú/SP 241 km de Aparecida do Norte/SP, o que levou 16 dias. O trecho onde inspirou esse texto foi percorrido no 13º dia.
Dia 18/02 – Paraisópolis à Luminosa, 25 km
LUMINOSA
Marcos Antônio César de Oliveira
Ladeada por morros, pajeada pela natureza, majestosamente a contemplar o vale e ao entardecer a serra da Luminosa se pronuncia; o peregrino se encanta ao descer o vale, sobre ele sente o sol lhe colocar a prova. Resistência e determinação para prosseguir, sentindo dor em seus pés calejados as trilhas cobram seu pedágio, pois a cada passada irregular, lenta, pesarosa, seu corpo arqueia. O peso em suas costas representa sua moradia e em seu espírito carrega sua esperança e penitência.
A descida traz o alento do repouso vindouro, ao chegar ao leito do vale o cansaço é sentido como um açoite do carrasco, sem dó. O semblante extenuado denuncia, as dores são sentidas profundamente, o pisar fica difícil, mas do seu propósito renasce forças.
A jornada até ali foi longa, desafiadora, mas ao se deparar com a serra, uma sensação toma conta do crente, o pensamento de que de toda jornada esse seria o último dos maiores desafios impostos pelo caminho, pois sua fama é contada por todos que se impõem o propósito da Fé. Prosseguir, deixar para trás a cada passo o cansaço, as dores; retornar não é concebível como alternativa, não há volta, continuar é o único alento.
Nas imediações da cidade um breve momento de satisfação ao adentrar a pequenina Luminosa, herdeira da soberana do vale, que ao longe espreita aqueles que se colocam diante dela. Lentamente exploro a zona urbana, mas sem distração passo pela igrejinha, registro e prossigo saindo da cidadezinha e seguindo rumo a gigante, proferida nas histórias de outros.
As setas indicam o caminho e como que envolvido por uma armadilha me percebo ao meio da subida pedregosa, e os primeiros quatro quilômetros tomam proporção gigantesca cobrando de seu visitante o ônus de sua empreitada, esforço e determinação. Um Oasis foi anunciado, e bem-aventurado aqueles que persistem, o refúgio estava próximo para isso seria necessário vencer os primeiros quatro quilômetros que separavam o momento mais aguardado do dia, situada a 1.200 metros de altitude. O silêncio é reconfortador, pois a alma grita, reclama dos obstáculos encontrados e o espírito se purifica revigorando-se diante da beleza do cenário do vale e seus habitantes, tendo o sol ao fim da tarde sobre seus telhados.
Acolhido e auxiliado por uma boa alma (D. Inês) me alimentei, descansei refazendo as forças para o dia seguinte, não me lembro de ter dormido, o cansaço era enorme, então me dei conta somente na madrugada quando abri os olhos e consultei o relógio, eram quatro horas, havia me imposto retomar a subida as cinco da matina, para isso levantei as quatro para realizar o ritual de preparação. Com respeito aceitei o convite da madrugada fria e colocando – me de pé fui ao encontro daquela que causa fascínio e desafia aquele que dos passos faz sua penitência e oração.
Imbuído do espírito de todo peregrino que percorre a trilha em busca de autoconhecimento e inspiração, após um dejejum e a despedida da anfitriã segui o caminho, ainda com o sol nascendo, com o ar frio da manhã me encorajando me confrontei com minha oponente mais temida, mas apesar de sua grandiosidade Luminosa acolhe o viajante que persiste e coloca aos seus olhos uma visão do vale que enche o espírito, ao som do pequeno córrego que dita o ritmo das passadas e sem ao menos avisar a majestade do vale concede audiência ao andarilho; a visão da coroação, pois sobre o ponto mais alto da serra o sol lança sua luz sobre o pico, como se o astro rei reconhecesse a serra como sua rainha ao coroa-la.
Depois dessa cerimoniosa visão a montanha estende o trecho final e a subida tem fim sem ao menos você ter sentido o seu término. O peregrino ao olhar para trás vê a coroa reluzente no pico e a soberana acenando ao visitante que agora prossegue sobre seus domínios, a trilha agora contínua com flores brancas e amarelas. As araucárias margeiam o caminho e convidam a uma subida acentuada, mas sobre o manto de suas folhas e galhos lhe incentiva com ar fresco e acolhedor tornando a subida amena e prazerosa, mesmo que sob esforço contínuo das passadas do viajante, mas como aprendido ao longo do percurso o caminhar é a forma que o peregrino tem de orar a cada segundo no caminho de sua vida.
Boa tarde amigo peregrino.
Se vc saiu de Tambaú, caminhou 429 km até Aparecida e não 241.
Parabéns ….
Oi Marcos…que grata surpresa para mim, ao iniciar a leitura do texto, ver surgir a imagem do peregrino que me pareceu familiar. A um olhar mais atento, veio o reconhecimento.
Parabéns pela caminhada impregnada de fé e coragem. Feliz por você!
Grande abraço….
Att.
Norma Stelli.