{"id":989,"date":"2016-10-24T16:50:07","date_gmt":"2016-10-24T18:50:07","guid":{"rendered":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/?p=989"},"modified":"2017-04-04T15:52:50","modified_gmt":"2017-04-04T18:52:50","slug":"memorias","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/blog\/2016\/10\/24\/memorias\/","title":{"rendered":"MEM\u00d3RIAS"},"content":{"rendered":"

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VIDA E MORTE PEREGRINA<\/strong><\/p>\n

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Susumu Yamaguchi<\/strong><\/p>\n

\u00a0Cronista e Andarilho<\/strong><\/p>\n

E-mail: sussayam@gmail.com<\/strong><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0<\/strong><\/p>\n

Rumo a Ouro Fino, poeira era o que n\u00e3o me faltava ao deixar Andradas e seguir pela estrada de terra. Alguns carros reduziam bem a velocidade ao me avistarem, mas invariavelmente aqueles com vidros escuros n\u00e3o o faziam, talvez porque seus motoristas vissem que eu n\u00e3o os podia ver. Naquele espesso p\u00f3, rastros de pedestres e de ciclistas tamb\u00e9m perdiam sua identidade em breve tempo.<\/p>\n

Embora uma grande placa se refira a certo Festival Enogastron\u00f4mico<\/em>, a grande produ\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o deve ser mesmo o caf\u00e9 a se julgar pelas enormes planta\u00e7\u00f5es que ocupam quase toda a \u00e1rea vis\u00edvel, at\u00e9 as mais improv\u00e1veis encostas de serras. Pelo que ou\u00e7o falar desde que cheguei a Joan\u00f3polis, l\u00e1 devia ser assim antes; hoje, a pastagem ocupa a \u00e1rea que pertencia aos cafezais e vem sendo gradativamente substitu\u00edda por eucaliptais.<\/p>\n

Como ser\u00e1 a vis\u00e3o de um peregrino do futuro ao subir lentamente a Serra dos Limas e olhar para tr\u00e1s, como fa\u00e7o neste momento? Imagino que aquele um poderia ser o Ben\u00ea, um amigo habituado a fazer longas caminhadas di\u00e1rias com um pesado bornal. Ele traz not\u00edcias de muitos cantos do grande mundo para pessoas da pequena cidade, que sempre as recebem com renovadas alegrias ou ins\u00f3lita tristeza, mas nunca com indiferen\u00e7a.<\/p>\n

E imagino que ele poderia correr o olhar pelo amplo vale e lembrar-se mais uma vez de nosso amigo Mois\u00e9s, com quem caminhava mais longamente em seus momentos de folga do trabalho. Tomavam o \u00f4nibus por meia hora at\u00e9 Piracaia e voltavam andando por mais de seis horas; e, entre outros percursos, subiam a Serra do Lopo e desciam para Extrema, almo\u00e7avam em Minas pesadamente \u00e0 beira da rodovia Fern\u00e3o Dias e voltavam pela estrada Entre Serras e \u00c1guas<\/em>, percorrendo mais que uma maratona.<\/p>\n

Caminharam muito, eles. Mas este Caminho da F\u00e9 n\u00e3o fizeram juntos, e nem o far\u00e3o. E nem eu, com Mois\u00e9s pelo menos. Agora sigo por sobre as pegadas que ele deixou neste trecho, guardadas debaixo de poeiras e lamas de muitas esta\u00e7\u00f5es. E oxal\u00e1 Ben\u00ea passe por sobre os nossos passos, um dia qualquer em que todo o cen\u00e1rio aqui do alto poder\u00e1 estar diferente, mas que o esp\u00edrito que move nossos passos nessa serra, e em todo o caminho, seja o mesmo.<\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0<\/strong><\/p>\n

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Margareth \u2013 margot.joaninha@hotmail.com<\/p><\/div>\n

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No alto da Serra dos Limas, poucas casas, igreja, orelh\u00e3o e bancos onde Edson e Maur\u00edcio descansam e me aguardam. Um garoto louro espera em um banco a van para o \u00faltimo dia de aula, que est\u00e1 atrasada e a m\u00e3e acha que ter\u00e1 de lev\u00e1-lo at\u00e9 Andradas. A outra van n\u00e3o o levar\u00e1, passa devagar e vai embora. Nas f\u00e9rias ele ajudar\u00e1 na colheita do caf\u00e9, que est\u00e1 atrasada neste ano. Preparamo-nos para partir. A m\u00e3e chama-o para a porta de casa. Sa\u00edmos da pracinha e come\u00e7amos a andar. O menino parece triste. Olho para tr\u00e1s. O sil\u00eancio do bairro vazio tamb\u00e9m parece triste. Volto-me e sigo, devagar. Para leste, sempre.<\/p>\n

Mais adiante, dona Natalina diz que Edgar passou em sua pousada na tarde do dia anterior e, como se sentia bem, esticou at\u00e9 Barra, sete quil\u00f4metros \u00e0 frente. Ela mostra os c\u00f4modos que fez para acolher melhor os peregrinos. Quando s\u00e3o muitos, ela chama a filha e a nora para ajudar na alimenta\u00e7\u00e3o. Habitualmente elas ficam no cafezal, mas ela mesma tem de ficar em casa para receber telefonemas e peregrinos que passam sem regularidade. Diz que tem vontade tamb\u00e9m de ir a Aparecida a p\u00e9, j\u00e1 at\u00e9 falou com uma amiga, mas tem de ter pouso no m\u00e1ximo com vinte e cinco quil\u00f4metros. O seu amistoso cachorro atende pelo nome de Saddam Hussein.<\/p>\n

A vis\u00e3o que se tem de Barra do alto da serra \u00e9 impressionante, ainda mais se sentimos dores nos joelhos. Assim como eu, Maur\u00edcio come\u00e7ou a sentir o joelho direito um dia ap\u00f3s a descida para \u00c1guas da Prata. Edson nada sentiu, e como n\u00e3o os vejo na estrada que desce para l\u00e1 imagino que j\u00e1 tenham chegado. Agora \u00e9 minha vez de descer at\u00e9 o pequeno bairro rural que pertence a Andradas, Jacutinga e Ouro Fino, e por isso tamb\u00e9m conhecida por Tr\u00eas Barras. E quem primeiro me sa\u00fada na pousada \u00e9 uma alegre cachorrinha chamada Chiara.<\/p>\n

Enquanto Edson e Maur\u00edcio percorrem os tr\u00eas munic\u00edpios da vila procurando mortadela e tuba\u00edna gelada, converso com Joelma e seu filho Kau\u00ea na pousada, onde moram tamb\u00e9m o marido Jo\u00e3o e o ca\u00e7ula Caio. Atendem peregrinos desde o in\u00edcio do Caminho da F\u00e9, em fevereiro de 2003, primeiramente apenas com refei\u00e7\u00f5es no bar e alojamentos no sal\u00e3o paroquial. Constru\u00edram a pousada depois, e tamb\u00e9m a pequena gruta de Nossa Senhora Aparecida no quintal.<\/p>\n

Vejo pelo livro de peregrinos que quase cinco mil pessoas j\u00e1 passaram por aqui, muitas apenas para carimbar a credencial, sendo cerca de setenta apenas neste m\u00eas. Folheio as p\u00e1ginas e encontro a assinatura de Mois\u00e9s Eli Ara\u00fajo, peregrino n\u00ba 1.804, em 13 de julho de 2005, h\u00e1 quase exatos 3 anos. Digo a ela que ele morreu em dezembro \u00faltimo, em acidente quando pedalava em Joan\u00f3polis.<\/p>\n

De certa maneira, desde Tamba\u00fa v\u00ednhamos seguindo seus passos por todos os lugares que ele passou com Edson naquele ano, como ocorreu na primeira pousada em que o caminho adentra na regi\u00e3o de montanhas, logo ap\u00f3s Vargem Grande do Sul, onde tamb\u00e9m localizamos o seu nome. Ao saber do acontecido com Mois\u00e9s, a hospedeira Cidinha Navas imediatamente escreveu ao lado: \u201cMorreu e foi para o C\u00e9u\u201d<\/em>.<\/p>\n

Joelma mostra uma fotografia de um casal de peregrinos em frente ao Santu\u00e1rio Nacional de Nossa Senhora da Concei\u00e7\u00e3o Aparecida. Vilma e L\u00e9o haviam feito o Caminho da F\u00e9 em junho de 2007, em quatorze dias. Desde novembro ele estava s\u00f3, ap\u00f3s um conv\u00edvio de trinta e cinco anos. Por ela, ele peregrinou novamente em junho de 2008 e deixou ao longo do caminho uma tocante homenagem \u00e0 sua mem\u00f3ria, para os que a acolheram e tamb\u00e9m para os que n\u00e3o a conheceram.<\/p>\n

Pelo pequeno povoado de S\u00e3o Pedro da Barra, que conta com n\u00e3o mais de duas a tr\u00eas centenas de almas, a travessia da vida prossegue incessantemente. A morte, tamb\u00e9m peregrina, \u00e0s vezes demora mais de ano para passar.<\/p>\n

Como citar:<\/strong><\/p>\n

YAMAGUCHI, S.\u00a0 Vida e morte peregrina. Revista Eletr\u00f4nica Bragantina On Line<\/strong>. Joan\u00f3polis, n.60, p.-, out. 2016.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

VIDA E MORTE PEREGRINA \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Susumu Yamaguchi \u00a0Cronista e Andarilho E-mail: sussayam@gmail.com \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Rumo a Ouro Fino, poeira era o que n\u00e3o me faltava ao deixar Andradas e seguir pela estrada de terra. Alguns carros reduziam bem a velocidade ao me avistarem, mas invariavelmente aqueles com vidros escuros n\u00e3o o faziam, talvez porque seus motoristas vissem que eu n\u00e3o os podia ver. Naquele espesso p\u00f3, rastros de pedestres e de ciclistas tamb\u00e9m perdiam sua identidade em breve tempo. Embora uma grande placa se refira a certo Festival Enogastron\u00f4mico, a grande produ\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o deve ser mesmo o caf\u00e9 a se julgar pelas enormes planta\u00e7\u00f5es que ocupam quase toda a \u00e1rea vis\u00edvel, at\u00e9 as mais improv\u00e1veis encostas de serras. Pelo que ou\u00e7o falar desde que cheguei a Joan\u00f3polis, l\u00e1 devia ser assim antes; hoje, a pastagem ocupa a \u00e1rea que pertencia aos cafezais e vem sendo gradativamente substitu\u00edda por eucaliptais. Como ser\u00e1 a vis\u00e3o de um peregrino do futuro ao subir lentamente a Serra dos Limas e olhar para tr\u00e1s, como fa\u00e7o neste momento? Imagino que aquele um poderia ser o Ben\u00ea, um amigo habituado a fazer longas caminhadas di\u00e1rias com um pesado bornal. Ele traz not\u00edcias de muitos cantos do grande mundo para pessoas da pequena cidade, que sempre as recebem com renovadas alegrias ou ins\u00f3lita tristeza, mas nunca com indiferen\u00e7a. E imagino que ele poderia correr o olhar pelo amplo vale e lembrar-se mais uma vez de nosso amigo Mois\u00e9s, com quem caminhava mais longamente em seus momentos de folga do trabalho. Tomavam o \u00f4nibus por meia hora at\u00e9 Piracaia e voltavam andando por mais de seis horas; e, entre outros percursos, subiam a Serra do Lopo e desciam para Extrema, almo\u00e7avam em Minas pesadamente \u00e0 beira da rodovia Fern\u00e3o Dias e voltavam pela estrada Entre Serras e \u00c1guas, percorrendo mais que uma maratona. Caminharam muito, eles. Mas este Caminho da F\u00e9 n\u00e3o fizeram juntos, e nem o far\u00e3o. E nem eu, com Mois\u00e9s pelo menos. Agora sigo por sobre as pegadas que ele deixou neste trecho, guardadas debaixo de poeiras e lamas de muitas esta\u00e7\u00f5es. E oxal\u00e1 Ben\u00ea passe por sobre os nossos passos, um dia qualquer em que todo o cen\u00e1rio aqui do alto poder\u00e1 estar diferente, mas que o esp\u00edrito que move nossos passos nessa serra, e em todo o caminho, seja o mesmo. \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0   No alto da Serra dos Limas, poucas casas, igreja, orelh\u00e3o e bancos onde Edson e Maur\u00edcio descansam e me aguardam. Um garoto louro espera em um banco a van para o \u00faltimo dia de aula, que est\u00e1 atrasada e a m\u00e3e acha que ter\u00e1 de lev\u00e1-lo at\u00e9 Andradas. A outra van n\u00e3o o levar\u00e1, passa devagar e vai embora. Nas f\u00e9rias ele ajudar\u00e1 na colheita do caf\u00e9, que est\u00e1 atrasada neste ano. Preparamo-nos para partir. A m\u00e3e chama-o para a porta de casa. Sa\u00edmos da pracinha e come\u00e7amos a andar. O menino parece triste. Olho para tr\u00e1s. O sil\u00eancio do bairro vazio tamb\u00e9m parece triste. Volto-me e sigo, devagar. Para leste, sempre. Mais adiante, dona Natalina diz que Edgar passou em sua pousada na tarde do dia anterior e, como se sentia bem, esticou at\u00e9 Barra, sete quil\u00f4metros \u00e0 frente. Ela mostra os c\u00f4modos que fez para acolher melhor os peregrinos. Quando s\u00e3o muitos, ela chama a filha e a nora para ajudar na alimenta\u00e7\u00e3o. Habitualmente elas ficam no cafezal, mas ela mesma tem de ficar em casa para receber telefonemas e peregrinos que passam sem regularidade. Diz que tem vontade tamb\u00e9m de ir a Aparecida a p\u00e9, j\u00e1 at\u00e9 falou com uma amiga, mas tem de ter pouso no m\u00e1ximo com vinte e cinco quil\u00f4metros. O seu amistoso cachorro atende pelo nome de Saddam Hussein. A vis\u00e3o que se tem de Barra do alto da serra \u00e9 impressionante, ainda mais se sentimos dores nos joelhos. Assim como eu, Maur\u00edcio come\u00e7ou a sentir o joelho direito um dia ap\u00f3s a descida para \u00c1guas da Prata. Edson nada sentiu, e como n\u00e3o os vejo na estrada que desce para l\u00e1 imagino que j\u00e1 tenham chegado. Agora \u00e9 minha vez de descer at\u00e9 o pequeno bairro rural que pertence a Andradas, Jacutinga e Ouro Fino, e por isso tamb\u00e9m conhecida por Tr\u00eas Barras. E quem primeiro me sa\u00fada na pousada \u00e9 uma alegre cachorrinha chamada Chiara. Enquanto Edson e Maur\u00edcio percorrem os tr\u00eas munic\u00edpios da vila procurando mortadela e tuba\u00edna gelada, converso com Joelma e seu filho Kau\u00ea na pousada, onde moram tamb\u00e9m o marido Jo\u00e3o e o ca\u00e7ula Caio. Atendem peregrinos desde o in\u00edcio do Caminho da F\u00e9, em fevereiro de 2003, primeiramente apenas com refei\u00e7\u00f5es no bar e alojamentos no sal\u00e3o paroquial. Constru\u00edram a pousada depois, e tamb\u00e9m a pequena gruta de Nossa Senhora Aparecida no quintal. Vejo pelo livro de peregrinos que quase cinco mil pessoas j\u00e1 passaram por aqui, muitas apenas para carimbar a credencial, sendo cerca de setenta apenas neste m\u00eas. Folheio as p\u00e1ginas e encontro a assinatura de Mois\u00e9s Eli Ara\u00fajo, peregrino n\u00ba 1.804, em 13 de julho de 2005, h\u00e1 quase exatos 3 anos. Digo a ela que ele morreu em dezembro \u00faltimo, em acidente quando pedalava em Joan\u00f3polis. De certa maneira, desde Tamba\u00fa v\u00ednhamos seguindo seus passos por todos os lugares que ele passou com Edson naquele ano, como ocorreu na primeira pousada em que o caminho adentra na regi\u00e3o de montanhas, logo ap\u00f3s Vargem Grande do Sul, onde tamb\u00e9m localizamos o seu nome. Ao saber do acontecido com Mois\u00e9s, a hospedeira Cidinha Navas imediatamente escreveu ao lado: \u201cMorreu e foi para o C\u00e9u\u201d. Joelma mostra uma fotografia de um casal de peregrinos em frente ao Santu\u00e1rio Nacional de Nossa Senhora da Concei\u00e7\u00e3o Aparecida. Vilma e L\u00e9o haviam feito o Caminho da F\u00e9 em junho de 2007, em quatorze dias. Desde novembro ele estava s\u00f3, ap\u00f3s um conv\u00edvio de trinta e cinco anos. Por ela, ele peregrinou novamente em junho de 2008 e deixou ao longo do caminho uma tocante homenagem \u00e0 sua mem\u00f3ria, para os que a acolheram e tamb\u00e9m para os […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":991,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"content-type":"","om_disable_all_campaigns":false,"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_uf_show_specific_survey":0,"_uf_disable_surveys":false,"footnotes":""},"categories":[10],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/989"}],"collection":[{"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=989"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/989\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/media\/991"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=989"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=989"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/caminhodafe.com.br\/ptbr\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=989"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}